A verdade é que tem muito beócio se achando Boécio
- Denis Zanini

- 20 de dez. de 2024
- 2 min de leitura

Boécio (480-524 d.C.) foi um filósofo romano, considerado o último dos antigos e o primeiro dos escolásticos.
Escritor, tradutor, poeta, teólogo e estadista, sua obra 'A Consolação da Filosofia', escrita na prisão, é um marco do pensamento ocidental, unindo filosofia clássica e teologia cristã.
Mas o que isso tem a ver com o mundo atual? Surpreendentemente, muito mais do que imaginamos.
Na verdade, a sabedoria de Boécio é mais útil e relevante do que nunca, principalmente quando estamos vivendo o auge da Era Dunning-Kruger.
Este fenômeno - relatado pelos psicólogos David Dunning e Justin Kruger- diz respeito a indivíduos com parcos conhecimentos (os beócios) que superestimam suas competências, manipulam fatos e usam as redes para expor seus pensamentos, acreditando estar em pé de igualdade com os de especialistas.
Com razão, em um mundo onde hashtags substituem argumentos e memes são a nova retórica, os beócios digitais formados pela UCIW - Universidade de Conhecimento Instantâneo do WhatsApp - proliferam.
Isso torna o debate tendencioso, raso e sectário, dando luz a um pernicioso pensamento totalitário.
Contudo, nem tudo está perdido. Podem me chamar de idealista (e sou mesmo), mas acredito que, aos poucos, com muita paciência, empatia e diálogo, é possível reverter esse quadro.
Imagine, por exemplo, se usássemos nosso feed como Beócio usou seu tempo na prisão?
Sim, um espaço onde coisas irrelevantes não tem acesso, destinado à reflexão profunda, à produção intelectual, um verdadeiro bunker contra distrações e relações superficiais?
Poderíamos transformar cada notificação em uma oportunidade de questionamento, cada post em um convite à contemplação.
Ser um Boécio moderno não é sobre ter todas as respostas, mas sobre fazer as perguntas certas.
É trocar o "compartilhar sem ler tomado pela emoção do fato" pelo "ler e refletir antes de opinar".
É entender que a verdadeira influência não se mede em seguidores, mas em mentes provocadas a pensar.
A verdadeira consolação da filosofia na era digital pode estar justamente em desacelerar, questionar e, quem sabe, admitir: "Não sei e quero aprender".
É o amor ao aprendizado em sua essência.
Esta humildade intelectual, tão rara quanto valiosa, pode ser o antídoto para a arrogância do conhecimento superficial que tanto assola as redes sociais.
Em um mundo saturado de opiniões, a verdadeira sabedoria pode residir no silêncio reflexivo e na busca constante pelo conhecimento.







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